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Entre O Prazer E A Dor


Valter Luiz

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Sadismo. O nome deste distúrbio nasceu do comportamento doentio do Marquês de Sade (1740-1814) que costumava criar enredos teatrais nos quais os protagonistas eram maltratados com requintes de perversidade. Assim como no masoquismo, o sadismo pode ter origem na infância, no comprometimento do desenvolvimento psicossexual, propiciando a formação de comportamentos sexuais na vida adulta em que o desejo mórbido de ser maltratado e o de maltratar são pré-requisitos para a gratificação.

O Masoquismo originou-se do nome do conde austríaco Leopoldo Sacher Von Masoch, que viveu entre os anos de 1836 e 1895 e escreveu diversas novelas cujos personagens se envolviam com prazeres associados à flagelação.

Masoquismo e sadismo podem se mesclar numa mesma pessoa, já que são patologias afins, caracterizando o Sadomasoquista. O termo perdeu a sua conotação original de perturbação mental, e hoje o usamos para designar ironicamente pequenas agressões físicas e morais.

O que caracteriza o sadismo ou o masoquismo como patologia é a sua presença determinante como impulso ou necessidade incontrolável. Não é somente o sofrer e nem o fazer sofrer e sim, a compulsão ao sofrimento e ao fazer sofrer, respectivamente. Não fossem essas polarizações, poderíamos claramente dizer que todas as relações estão ligadas ao sofrimento, e que nenhum ser humano escapa a ter graus leves e moderados de conduta sadomasoquista. Estas conclusões pertencem ao interessante estudo de Bernardino Carleial, da Universidade de Minas Gerais.

O masoquista age inconscientemente, não deseja voluntariamente o próprio sofrimento, mas o atrai para si. Prejuízos físicos, morais e materiais são provocados pela própria pessoa. Costumo dizer que todo mundo tem uma tia, ou conhece um alguém que está vivendo em punição ou purgação exigida pelo inconsciente, e se negando a qualquer tratamento. O masoquista costuma “fabricar” o seu próprio algoz, utilizando-se de outras pessoas para concretizar seus desejos de autopunição. Evitam qualquer oportunidade para se divertir, procuram fazer tudo sozinho, apesar dos apelos de parentes e amigos. Criam serviços estafantes e desnecessários, afastam ajudantes e funcionárias com excessos e implicâncias. O apego aos relacionamentos sem reciprocidade afetiva também deflagra a compulsão – com ou sem crisesdepressivas, a tônica do seu estilo de vida é o próprio sofrimento.

O sadismo pode se originar de hábitos familiares de constantes e repetitivas vinganças, humilhações e exploração pessoal. Mas as pessoas não se agridem, vitimizam ou se martirizam intencionalmente, é por isso que esses desejos, ocultos do pensamento, precisam ser deflagrados. A simples revelação pode amenizar a defesa neurótica, ou chantagem emocional.

É preciso observar que, quando uma pessoa “se faz de vítima”, quase sempre está se sentindo rejeitada e efetivamente carente. Os dependentes químicos, sejam de fumo, álcool ou drogas, embora conheçam e sintam os efeitos negativos de seus hábitos, permanecem entregues a eles, como se lhe existissem uma programação interna o compelindo à ruína física, moral e mental.

Se o sadismo e o masoquismo têm ligações com os desvios sexuais e com sentimentos de culpa, ele pode ter se originado do hábito de sofrer. Pela valorização do sofrimento e do sacrifício e da dor como virtude ou na crença de que o sofrimentoseja necessário, e não simplesmente uma adversidade a ser combatida.

É possível nos libertar, através da conscientização, apoiados pela psicoterapia. Aumentarmos a distância entre o prazer e a dor. Voltarmos nosso comportamento para a busca pelo prazer originado, planejado e impulsionado pelo consciente, detentor da razão, do equilíbrio e do bom-senso.

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