Valter Luiz Posted January 17, 2016 Share Posted January 17, 2016 Na infância, as festas de final de ano eram marcadas por um momento especial: o dia de pintar a casa. A família reunida, cal e água misturados a vários litros de tinta, brocha na mão e a festa começava. Em poucas horas a velha casa ficava novinha em folha. Mas, as chuvas de janeiro logo revelavam a verdade. Chorava, vendo a tinta escorrer pelas paredes e, com ela, a alegria ir embora. A casa não ficava nova, era disfarçada, reformada.O início de um novo ano reaviva o anseio por recomeçar. Prometemos a nós mesmos mudar o comportamento, praticar exercícios físicos, ler mais, iniciar um curso, chegar ao trabalho bem-humorado, ser voluntário, praticar a religião, ser mais carinhoso... Para muitos, isso não passa de empolgação, uma brevíssima fase. Logo, tudo volta a ser como antes; angustia e sensação de fracasso terão a última palavra. Resta aguardar o próximo janeiro.Na rotina do constante recomeçar contrastam a alegria por ver a casa nova e o desespero ao perceber que tudo não passou de ilusão. Embora os propósitos sejam nobres, não conseguimos torná-los realidade por insistirmos em, simplesmente, reformar a casa. A novidade da casa nova, do carro novo, de mais um diploma, da viagem dos sonhos, do novo corte de cabelo passa, e voltamos a ser os mesmo de sempre. Cai o disfarce de felicidade e logo a velha casa expõe suas rachaduras, paredes tortas, infiltrações...O ser humano necessita Ser restaurado. Restaurar uma obra exige tempo, empenho, investimento e comprometimento. A atenção e delicadeza do restaurador são fundamentais no processo de resgate da originalidade. As camadas de tinta, fruto das muitas reformas, uma a uma, vão sendo removidas, vagarosamente. Em nós, humanos, o processo dói e incomoda; resgata o passado, vivências, alegrias, traumas, vitórias e perdas; coloca-nos diante dos acertos e erros, excessos e omissões; desperta saudade, gera angustia.Ser um Ser restaurado é um desafio proposto a todos, aceito por poucos. Boa parte das pessoas contenta-se em viver de aparências, constantes reformas, na tentativa de disfarçar a realidade. Resultado: frustração. A quem se esforça por viver o constante processo de restauração as exigências são muitas, porém, assumidas consciente, livre e responsavelmente. Resultado: felicidade, auto-realização, disposição para Ser e fazer a diferença para melhor. Este processo tem começo, mas não tem fim. É contínuo, necessário, ardoroso, compensador, renovador, restaurador.Ousemos Ser restaurados! 2 Link to comment Share on other sites More sharing options...
morizon Posted January 17, 2016 Share Posted January 17, 2016 Excelente mensagem. Valeu, Valter Luiz. Morizon. Link to comment Share on other sites More sharing options...
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