Ganhar na loteria é um evento tão improvável que, quando acontece, a primeira reação não é alegria — é desconfiança.
A pessoa confere o bilhete 17 vezes. Depois confere o site. Depois confere outro site. Depois liga pra mãe, que diz:
— “Cuidado, isso é golpe.”
Só então o cérebro aceita: ficou rico.
Nesse exato momento, surge um talento novo: gastar dinheiro que ainda nem caiu na conta. A pessoa já comprou uma casa, um carro, um sítio, um helicóptero e uma cafeteira italiana que custa mais que o carro antigo.
Amigos que você não via desde 1998 aparecem com frases emocionadas:
— “Lembra de mim? A gente respirou o mesmo ar no ensino fundamental.”
Parentes distantes viram próximos. Primos que você nunca ouviu falar agora te chamam de “meu irmão”. Todo mundo tem um projeto incrível: padaria gourmet, aplicativo
revolucionário, criação de alpacas orgânicas.
O mais curioso é que o ganhador continua sendo a mesma pessoa… só que agora ele diz:
— “Não é sobre dinheiro, é sobre liberdade.”
…enquanto escolhe entre viajar pra Maldivas ou pra Bora Bora na terça-feira.
E no fim das contas, depois de toda a euforia, a maior mudança é simples:
o café continua quente, o boleto continua chegando…
mas agora ele é pago sem chorar.
Porque ganhar na loteria não resolve todos os problemas —
só troca eles por problemas cinco estrelas .