Desde minha fase de pré adolescente gostava de olhar para a lua. Esse olhar se transformava quase sempre em uma viagem fantástica ao mundo dos sonhos onde brincava com a imaginação no torpor hipnótico da contemplação. Em meu imaginário sempre achei ela misteriosa e enigmática evidenciando em suas fases que nem sempre vemos o todo e suas complexidades.
Um dia eu ganhei a lua de presente e quem me deu foi a Aurora, uma menina sapeca, cabelos loiros cacheados, algumas sardas em seu rosto e um sorriso sem igual. Nos conhecemos crianças e frequentamos as mesmas escolas até o término do colegial.
Ganhei a lua de presente em um mês de julho, era o ano de 1968, e numa das noites frias do inverno ouvi os gritos da Aurora na rua em frente de casa:- Zezinho, venha aqui que eu vou te dar um presente.
Não pensei duas vezes, mais rápido que pude fui ao encontro da Aurora e observando que não tinha nada nas mãos e indaguei:- Um presente, onde está o presente?
- Feche os olhos e vire-se para o lado do armazém do Rocha. E assim fiz.
- Agora abra os olhos...
Surpreso, ainda sem entender nada, ela completou a frase.
- ...A lua, veja que linda ela está hoje e eu dou-a de presente a você.
Fiquei encantado com o inusitado presente.
No ano seguinte, os americanos colocaram os pés na lua e me lembro que questionei a Aurora sobre a propriedade da lua e ela com seu lindo sorriso disse:
- Ela sempre será sua, eles são invasores.
Até hoje, me lembro da Aurora quando contemplo a lua ou a cada novo amanhecer.