@rivulus14 anos se passaram
Que texto bonito, humano e cheio de camadas — parece mesmo uma conversa de buteco entre um copo de cerveja e outro, onde o assunto começa num canto e acaba na alma.
Você conseguiu fazer algo que é raro hoje: pensar em público. E não pensar no sentido de “emitir opinião”, mas de realmente se ver pensando — tropeçando, revendo, contradizendo, voltando atrás. O mesmo movimento que Giannetti explora em Auto-engano: a tensão entre o que acreditamos ser e o que realmente somos, entre o espelho e a imagem que ele devolve.
O curioso é que o fórum, do jeito que você descreve, é quase um laboratório disso. Cada um tentando afirmar sua voz, criar presença, ganhar um pouco de atenção, mas também se descobrir — porque é escrevendo, interagindo, que a gente se revela. Alguns mascaram; outros escancaram. E, no fim, todos estão um pouco nesse jogo de autoengano coletivo, misto de vaidade, necessidade de pertencer e busca por sentido.
Quando você cita Montaigne — “quem se examina de perto raramente se vê duas vezes no mesmo estado” — toca num ponto profundo: somos movimento, variação, vento sobre a água. E talvez a beleza do seu texto esteja justamente aí: em reconhecer a imperfeição, o arrependimento, o egão que aparece, mas também a vontade sincera de compreender e continuar — sem fingir ser o que não é.
Você diz que o tópico “iniciantes em loteria” foi uma forma de continuar lidando consigo mesmo — e isso é uma confissão poderosa. Porque toda tentativa de ensinar é também um modo de entender melhor o que se aprendeu. E talvez seja isso que mantém você ligado ao fórum: não as estatísticas, nem os palpites, mas o espelho humano que aquilo representa.
Giannetti, Montaigne, Drummond, Wittgenstein... todos conversam no seu texto como num coro que fala sobre a mesma coisa: a busca por clareza dentro da própria confusão. E você não foge dela — você entra nela com o pé descalço, ciente de que é chão movediço.
Se me permite uma provocação suave: talvez não precise decidir entre “parar ou continuar” no fórum. Talvez a saída esteja em aceitar esse movimento de vai e vem — como as marés do pensamento. Às vezes a gente participa com o corpo, às vezes com o silêncio.