BigMax Posted 2 hours ago Posted 2 hours ago Esqueça Uma coisa é certa: o tempo passa, mas quase nada muda — exceto, talvez, o cabelo impecável da moça da propaganda da Colorama nos anos 70. Na política, Trump volta e meia ameaça incendiar o planeta, e isso já nem causa espanto. De fato, novidade mesmo só uma história improvável — e que aconteceu comigo. Tudo começou quando decidi vasculhar as coisas do meu avô, guardadas há mais de 60 anos no porão. O lugar parecia intocado: pó, mofo e uma escuridão sufocante. Eu, com 14 anos, sempre tive medo de entrar ali. Mas um boato me deu coragem: diziam que meu avô possuía um amuleto da sorte. Foi o que me fez abrir o velho baú que descansava naquele canto sombrio. Dentro, entre ferramentas enferrujadas e lâminas antigas, encontrei algo inesperado: uma garrafa. Sim, uma garrafa. E é dela que vou falar. Você provavelmente não vai acreditar, mas vou narrar sem acrescentar uma vírgula. Passei um pano, tirando a poeira. Era escura, sem rótulo, misteriosa. Curioso, puxei a rolha. Então, para meu espanto, uma voz ecoou pelo porão: — Sou um ser que tem o dom de prever o futuro e desvendar os mistérios do passado. Atônito, pedi que repetisse. E a voz repetiu, palavra por palavra. Minha primeira pergunta, claro, foi sobre a MegaSena. A voz respondeu que, por princípios, não falava de loterias. Mas deixou uma dica: — Se não jogar, não ganha. Óbvio. Resolvi insistir com outras perguntas. — O Brasil será, um dia, tão pujante quanto os Estados Unidos? — Pujança? Esqueça os Estados Unidos. É uma terra de sonhos que se compram, mas poucos podem pagar. Uma pirâmide onde o topo respira aliviado e a base mal consegue ar. A saúde da alma deles adoece com a mesma velocidade com que a riqueza se concentra. Não queira esse tipo de futuro. Esqueça desse país. — Então seremos como o Japão? Organizados, tecnológicos? — Esqueça o Japão. É uma ilha de modernidade e solidão. Onde avós aprendem o crime para não morrerem sozinhas e jovens se apagam do mundo antes mesmo de viver. A ordem deles tem um custo alto demais para o espírito. Não deseje essa organização. Esqueça do Japão. — Não! — respondi, quase num grito. — Eu quero um Brasil brasileiro. Um país de alegria no ar, de sorrisos que resistem mesmo sem motivo, de abraços que dizem “tamo junto” sem precisar de palavras. Quero o Brasil da alma vibrante, do samba que pulsa, da mistura que encanta. Nosso gingado não é só da garota da escola de samba — é do povo inteiro: negro, indígena, branco, pardo, que constrói este lugar com corpos, ritmos e histórias. Nossa beleza está em todas as cores. Quero um Brasil que seja alma, justiça e festa. — Você está certo — a voz soou mais suave. — O Brasil será o país do futuro. Seus pais já ouviam isso há 50 anos. Logo será realidade. Só depende de vocês. — Mas e o nosso povo? Às vezes parece que não vai dar certo... — Não desanime. Nada será como antes nesse mundão. Tenha fé. Dizem que ela não costuma falhar. — E o Brasil? Como seremos? A voz se calou. Silêncio absoluto. Será que tinha validade? Desperdicei a chance de arrancar a combinação da loteria? Ou será que o limite eram apenas três perguntas?
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