Jump to content

Recommended Posts

Posted

Maluco Beleza

São Paulo em 1977 era um palco perfeito para um drama existencial com pitadas de ficção científica. Eu, um jovem encabulado com a vida, morava num apartamento de hotel. Num fim de semana qualquer, resolvi fazer uma alquimia farmacêutica sem saber: misturei dois remédios que, segundo a bula (que obviamente eu não li), não deveriam nem serem colocados lado a lado na prateleira da farmácia.

Resultado? Um festival psicodélico digno de Woodstock. Maluco beleza? Mais para maluco em alta definição. Comecei a ouvir vozes — e não eram as de hóspede reclamando do barulho. Era um zunido constante, luzes piscando como se eu tivesse entrado num fliperama. Na minha cabeça, parecia que havia alienígenas no quarto. E eu ali, imóvel, esperando que tudo passasse.

Não sei quanto tempo fiquei nesse transe. Só sei que, no que restava de lucidez, pensei: “Como é que eu saio dessa sem virar manchete de jornal?” Num esforço digno de atleta olímpico em câmera lenta, consegui abrir a janela. E aí veio ela: uma luz intensa, quase divina, que queimava meus olhos e me envolvia num calor surreal.

Era o sol. Simplesmente o sol. Um baita sol de novembro, desses que fazem até o concreto suar. E eu ali, renascendo como um lagarto urbano, agradecendo por não ter sido abduzido — nem pelos ETs, nem pelos hospedes e muito menos pela morte.

Desde então, aprendi duas lições: leia a bula — e lembre-se de que, às vezes, a realidade mais simples é o que nos salva da loucura.

  • Recently Browsing   0 members

    • No registered users viewing this page.
×
×
  • Create New...