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A Previsão da Mega da Virada

Na última semana de dezembro, o Brasil entra oficialmente em modo “quase rico”. O cheiro de panetone se mistura ao som de calculadoras mentais, fazendo contas mirabolantes sobre o que o prêmio vai proporcionar. É quando a Mega da Virada deixa de ser um simples sorteio e vira uma obsessão nacional.

Na padaria, o padeiro não pergunta mais se você quer pão francês; ele quer saber se você já jogou e como escolheu os números. E ninguém estranha. Dona Marta, que pechinchou cinquenta centavos no café, já decidiu que vai comprar um apartamento em Paris — “pequeno, só pra passar o verão europeu”. Seu João, que jura que dinheiro não traz felicidade, já escolheu até a cor da lancha. A felicidade, pelo visto, viria em branco perolado.

Mas o grande estrategista do bairro é o Seu Tião. Enquanto a fila da lotérica avança, ele ignora as estatísticas e foca no místico. Não joga sem antes consultar a Dona Josefa, uma cartomante que, segundo ele, "enxerga o futuro em 4K". Tião garante que a combinação vencedora veio desenhada na borra do café, confirmada por uma cigana que leu sua mão na rodoviária. “Os números estão quentes, Josefa não erra”, murmura ele, guardando o bilhete como se fosse a escritura de posse das Ilhas Maldivas.

As filas parecem assembleias criativas. Cada pessoa tem um projeto social, empresarial ou interplanetário. Um quer ajudar toda a família; outro quer abrir um bar só para amigos. Um terceiro quer sumir do mapa, mas mantendo o WhatsApp ativo “só pra postar status”.

Na ceia de Ano Novo, o fenômeno se intensifica. O espumante barato vira champanhe francês por imaginação espontânea; o peru seco ganha status de banquete imperial. Entre um brinde e outro, surge o debate: as dezenas da Josefa contra os números que o primo sonhou. “Imagina se a gente confere agora e os números da borra de café estão lá?”, alguém solta. Mas ninguém confere na hora. A superstição, afinal, é a alma do investimento.

À meia-noite, os fogos estouram no céu e, por alguns minutos, todo mundo é milionário. Apenas na expectativa, mas milionário. A esperança sobe mais rápido que os rojões, e o futuro parece finalmente organizado — mesmo sem planilha.

Quando os números saem e o bilhete de Seu Tião continua sendo apenas um papel, não há frustração real. Há filosofia. “Também, muita gente consultou a Josefa e ela, de cansada, se equivocou”, consola um. “Ela deve ter confundido o 6 com o 9 por causa da inclinação da xícara”, justifica o outro. E pronto: o sonho devagar se dissipa, se dissolve e evapora com o aroma do café… até o próximo dezembro.

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